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De acordo com dados do IBGE, as pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas já são a maioria (56%) da população brasileira. No entanto, a representação de indivíduos desses grupos raciais no local de trabalho está longe de refletir com precisão esta distribuição.
Como veremos ao longo deste artigo, a consciência negra nas empresas ainda é uma causa a ser fomentada e lapidada em âmbito global.
Quanto mais alto os cargos, menos profissionais negros você vê. No nível de gerente sênior e vice-presidente, os trabalhadores negros representam apenas 5% da força de trabalho e, no nível de vice-presidente sênior, apenas 4%. No topo, apenas cerca de 1% dos cargos de CEO da Fortune 500 são ocupados por líderes negros.
Se essa trajetória, estudada no levantamento McKinsey & Company no mercado de trabalho dos EUA continuar, estima-se que demorará 95 anos até que os trabalhadores negros alcancem a paridade em todos os níveis do setor privado.
Por isso, a consciência negra não pode ser uma efeméride passageira, celebrada no Brasil no dia 20 de novembro. A conscientização sobre a importância da cultura afro e o empoderamento de pessoas pretas precisa ser uma pauta constante, dentro e fora do ambiente corporativo.
Mas como fazer esse movimento sair do papel e ganhar força e voz nas organizações? Acompanhe esse artigo que certamente encontrará respostas para esse e outros questionamentos relacionados ao tema!
Veja também: Como apoiar mulheres negras no trabalho?
Desafios enfrentados pela população negra no ambiente de trabalho
O racismo estrutural no Brasil até hoje deixa suas marcas no mercado de trabalho. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo nosso site Vagas.com, 47,6% dos negros trabalham no nível operacional ou de auxiliar. Os diretores são apenas 0,7%. Ou seja, esses dados são ainda piores do que na pesquisa conduzida nos EUA que mencionamos anteriormente.
Por que apesar dos afro-brasileiros serem a maioria, eles não ocupam o topo das organizações? É como se nossa sociedade fosse um prédio construído com tijolos em que a discriminação racial define lugares, acessos e experiências de vida diferentes para cada pessoa, dependendo da identidade racial que ela tem.
Segundo Daniele Mattos, sócia cofundadora da empresa Indique uma Preta, consultoria de conexões entre profissionais negros e o mercado de trabalho, mesmo após a abolição da escravatura, em 1888, mantivemos os pilares de segregação racial.
Isso significa que vivemos em uma sociedade racista, com instituições, mecanismos e procedimentos que não garantem equidade racial. E, para desfazer essa afirmação, é preciso expor esse problema.
“Quando a escravidão acabou, não houve programa de reparação que reinserisse as pessoas escravizadas na educação. O resultado disso é que desde sempre as pessoas brancas passaram a se acostumar a ver negros em lugares subalternos”, comenta Daniele.
E de lá para cá, o mercado de trabalho ainda mantém práticas pouco acolhedoras para pessoas pretas, apesar de alguns avanços, como é o caso da criação das vagas afirmativas — que mais adiante abordaremos esse tópico.
Vaga racista
É possível que, mesmo com todos os cuidados para evitar preconceito no recrutamento, a empresa esteja oferecendo uma vaga racista.
Isso acontece quando o recrutador desconsidera as desigualdades estruturais que atingem pessoas negras que estão à procura de emprego, quando julga os dados profissionais e pessoais do candidato com o viés inconsciente de preconceito racial.
Um exemplo prático é estabelecer parâmetros de que só candidatos que fizeram intercâmbio em outros países podem ocupar determinada vaga que a organização oferece.
Escolher currículos que sejam de faculdade A ou B — sem dar oportunidade àqueles formados em outras instituições — também pode configurar racismo em relação às pessoas negras, que estão colhendo, historicamente, os prejuízos de um sistema educacional que as segrega.
“Com esse recorte, apenas uma pequena parcela da sociedade é contemplada, que geralmente não é formada por pessoas negras”, comenta a consultora da Indique uma Preta.
Mudar essa perspectiva na área de recursos humanos não é tarefa fácil, mas merece atenção de profissionais de RH, além de gestores e diretoria. Treinamentos com pessoas que estudam a questão racial no Brasil e com empresas que prestam consultoria são uma saída.
“Com constantes treinamentos, profissionais de RH conseguem valorizar outros tipos de narrativa. Isso não é abaixar a régua, mas trazer novos pontos de vista para as empresas. E diversidade sempre gera mais inovação”, aponta Daniele.
Políticas de inclusão e combate ao racismo: estratégias para promover a igualdade racial nas organizações
A mudança dessa composição da força de trabalho começa com ação coletiva para encorajar o diálogo aberto em torno do recrutamento e desenvolvimento de talentos étnicos e raciais. Mas quais as estratégias para promover a igualdade racial nas organizações?
1. Melhore o acesso
Os empregadores devem trabalhar em conjunto com ONGs ou até consultorias, como a Indique uma Preta para permitir que os talentos negros tenham as mesmas oportunidades de carreira que um talento branco. Como fazer isso? Melhorando o acesso à formação desses profissionais.
Por exemplo, empresas de tecnologia podem conduzir trilhas de conhecimento em programação para esses jovens talentos negros.
2. Invista em recrutamento afirmativo
Abrir vagas exclusivas para os talentos pretos ou pardos é um mecanismo que visa garantir que as pessoas de grupos historicamente discriminados tenham oportunidade de ingressar nas empresas e provarem seu valor ao longo de sua jornada de trabalho.
As vagas afirmativas são uma resposta ao recrutamento e seleção exclusivo mencionado por Daniele Mattos acima. Sem essa ferramenta, certamente a exclusão de pretos e pardos nas organizações se manterá estável.
3. Promova programas de qualificação
Após a seleção de talentos negros e pardos, invista em programas de qualificação e treinamento continuado para aprimorar as habilidades sociais e técnicas dos novos colaboradores.
Por conta do racismo estrutural no país, provavelmente, esses profissionais tiveram dificuldade de acesso à educação, faz parte da função social das empresas tentar diminuir essa desigualdade e fomentar a equidade de oportunidades dentro da organização.
4. Adote uma atitude de tolerância zero em relação ao racismo
As organizações devem adotar uma política de tolerância zero tanto para o racismo manifesto como para atos repetidos de racismo encoberto. Mas como agir contra isso?
Melhorando a cultura, a comunicação e a formação de lideranças de sua organização. Não adianta nada investir em vagas afirmativas se a cultura da sua empresa e os profissionais praticam a descriminação de grupos raciais, de forma consciente ou inconsciente.
5. Meça a evolução de seus programas inclusivos
Os empregadores devem agir e medir os resultados para garantir que sejam totalmente inclusivos com os talentos negros e pardos. Como? Tendo melhores dados e relatórios sobre como está sendo a jornada do colaborador deles, a integração deles na organização, taxas de turnover e se eles estão sendo promovidos ou não.
Confira 9 expressões racistas para parar de usar
As expressões racistas, literais ou não, também devem ser eliminadas do ambiente de trabalho como política da tolerância zero em relação ao racismo.
Assim, a diversidade e a equidade racial não ficam só no papel. Elas poderão ser sentidas na prática e na comunicação formal e informal entre os times, clientes e parceiros da organização.
Veja, portanto, algumas expressões racistas que as pessoas da sua empresa devem parar de usar:
- “Ele está aqui para cumprir as cotas”
- “Amanhã é dia de branco”
- “Aquele funcionário tem um pé na cozinha”
- “Com essa ideia, a empresa vai denegrir sua imagem” — para quem não entendeu, vale a pena destacar que o verbo denegrir vem da expressão “tornar escuro” e por que tornar escuro deve ser algo pejorativo? Eis o motivo do racismo na frase.
- “Ele não é negro, é moreno”
- “Eu até tenho amigos negros”
- “Ele é uma pessoa de cor”
- “Veja o humor negro do colega”
- “A coisa está preta, não faturamos muito nesse mês”
A consultora Daniele Mattos, indica ainda que, caso tenha dúvidas sobre se uma palavra ou comentário é racista, investigue em fontes confiáveis e informativas nas redes sociais, como o Instagram do Instituto Identidades do Brasil (id_br), o da Indique uma Preta, e o site do Instituto da Mulher Negra, o Geledés.
Quer se informar mais sobre o tema? Então, confira porque vale a pena criar processos seletivos exclusivos para contratar negros.