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Nas últimas semanas, o anúncio do programa de trainee exclusivo para negros da Magazine Luiza despertou debate sobre mercado de trabalho e ações afirmativas raciais. Por que, afinal, é importante lançar programas exclusivos para contratar negros? Será que isso não pode ser visto como “racismo reverso”, e que pessoas brancas podem se sentir discriminadas pela empresa?
A Magazine Luiza respondeu a comentários nas redes sociais explicando que a medida é para valorizar a diversidade. Afirmou que mais da metade dos 40 mil funcionários é negra ou parda, mas, em cargos de liderança, eles representam apenas 16% do total.
A falta de proporcionalidade causada pela disparidade racial entre brancos e negros no País se tornou flagrante. Afinal, segundo o IBGE, 56% da população brasileira se declaram preta ou parda. Por que, então, postos de chefia são ocupados majoritariamente por brancos, como no caso da varejista?
Como primeira reflexão, é necessário entender quais são as limitações que impedem que o quadro de funcionários das empresas seja mais diverso do que tem sido até agora. A partir daí, conseguimos entender como o racismo alcança o ambiente empresarial. Feito o diagnóstico, é hora de agir: cotas para negros em processos seletivos, por exemplo, geram oportunidade de igualdade e ampliam a pluralidade de vozes dentro da empresa.
Neste artigo, traremos mais detalhes sobre boas práticas para seleção de pessoas negras, informações sobre ações afirmativas e quais ferramentas o RH tem à disposição para promover inclusão na contratação.
Porque abrir vagas exclusivas para negros não é racismo reverso?
Racismo é o nome que damos a atitudes e situações de tratamento desigual entre as pessoas por causa de sua raça ou etnia. Infelizmente, no Brasil, vários estereótipos ainda recaem sobre pessoas negras e fazem com que, por vezes, elas sejam excluídas, desvalorizadas ou colocadas em situações constrangedoras só por conta da cor da pele.
A diferença não está só no tratamento interpessoal. A pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, mostrou que mulheres pretas ou pardas recebem menos da metade (44,4%) do que os homens brancos.
Quando uma empresa se preocupa com esse dado e é sensível a ele, inclui práticas antirracistas e a favor também da igualdade de gênero para valorizar a diversidade.
Contratar negros como reparação histórica
Pensar em reparação histórica pode ser a chave para esse processo. Isso porque, mesmo com avanços sociais, os quase quatro séculos de escravidão no Brasil ainda impactam na falta de representatividade de pessoas negras em espaços de decisão dentro das organizações. Vale dizer que a mesma pesquisa do IBGE mostrou que só 30% dos cargos gerenciais nas empresas brasileiras em 2018 eram ocupados por pretos e pardos frente a 68,6% deles exercidos por brancos.
Priorizar o recrutamento de pessoas negras não é “racismo reverso”. A expressão, na verdade, é um conceito distorcido, porque as ações de reparação não excluem ou discriminam pessoas brancas. Elas equiparam as oportunidades e transformam a seleção de candidatos em uma etapa mais justa dentro do mercado de trabalho.
Ações afirmativas no RH
Diante da desigualdade social e racial, ações afirmativas são ferramentas importantes para oferecer acesso aos grupos discriminados ou minoritários/minorizados. Cotas, bônus, programas de incentivo, trainees para grupos específicos, como negros, mulheres ou pessoas trans, funcionam como medidas de reparação dessa disparidade, ainda que ela se aprofunde em outros setores da sociedade.
Para o coordenador de Comunicação da Empregueafro, consultoria em RH e diversidade étnico-racial, Luiz Fernando Ferreira, as ações afirmativas são uma saída para inspirar e atrair mais profissionais negros para a empresa e uma forma eficaz de mudar a realidade social dos potenciais empregados.
“Essas ações costumam mudar completamente a realidade material não só do profissional selecionado, mas de toda a sua família. Além disso, vivemos em um País com a maioria de sua população negra; insistir na manutenção de uma equipe predominantemente (quando não exclusivamente) branca é insistir na manutenção do racismo”, analisa.
Importância
Na opinião de Ferreira, o comprometimento com ações afirmativas, como as para contratar negros, traz incontáveis benefícios às empresas, inclusive que interligam diversidade e rentabilidade.
“Além de promoção de justiça e igualdade, representa inovação, criatividade, produtividade, lucratividade e aumento de market share da empresa. A McKinsey & Company Consultoria aponta que empresas com mais diversidade étnica em cargos executivos têm 36% a mais de chance de aumentar o lucro.”
Como criar processos para contratar negros?
Processos exclusivos para pessoas negras são a melhor forma de garantir efetivamente que profissionais negros serão contratados. Por essa via, o RH tem mais controle do que em processos seletivos abertos a “todos os públicos”, que costumam se tornar processos exclusivos para pessoas brancas, na avaliação do representante da Empregueafro.
No desenvolvimento do programa de recrutamento, é recomendado que:
- Gestores e o RH façam um treinamento para entender seus vieses inconscientes, o contexto racial no Brasil e as ações que podem ser feitas para que a diversidade seja contemplada na empresa;
- Critérios de seleção sejam revistos, para que o processo contemple a diversidade de contratar negros;
- Profissionais negros participem do recrutamento. “Principalmente para analisar se os candidatos são realmente pretos ou pardos, visto que há uma notória tentativa por parte de alguns candidatos brancos de tentar fraudar e burlar esses processos se passando por uma pessoa negra”, pontua Ferreira;
- Ações internas sejam discutidas e garantidas para que os profissionais negros contratados possam permanecer e crescer na empresa.
Boas práticas para recrutar negros
O RH pode se apoiar em práticas que valorizem o foco racial na seleção e contratação dos funcionários. Entre elas, a de garantir as mesmas chances a todos os candidatos independentemente da instituição de ensino em que tenham se formado.
Apesar de o acesso de pessoas negras à universidade ter crescido expressivamente, se o candidato não preencher todos os requisitos da vaga, a empresa pode oferecer cursos de capacitação. Eles vão beneficiar não só o contratado, mas a própria empresa, por colocá- la em outra perspectiva para os funcionários e dentro do mercado.
A exigência de inglês, se não for uma necessidade para a vaga, também pode ser revista, uma vez que apenas 5% da população brasileira sabem o idioma. Cabe ainda entender que a localização do candidato, se ele mora longe da empresa, não pode ser impeditivo para a contratação. Nesses casos, vale apostar na tolerância para possíveis atrasos por conta da locomoção e adaptações da jornada de trabalho.
Outra boa prática é comunicar para os candidatos quais são as políticas de igualdade e diversidade e as metas da empresa a respeito do tema.
Tecnologias inclusivas para contratar negros
Iniciativas que conectam os candidatos e o RH para além do “currículo simples” são aliadas na geração de processos seletivos mais efetivos. No VAGAS.com, o candidato pode preencher o recurso de autodeclaração racial, de modo facultativo, informado raça ou cor no currículo.
A inteligência artificial também facilita processos para recrutamento de pessoas negras para a empresa.
A VAGAS acredita que a mudança para que a diversidade e inclusão tenham um peso muito maior dentro das empresas começa no Recrutamento e Seleção. Por isso, a plataforma VAGAS for business também pode te ajudar a conduzir processos seletivos muito mais inclusivos.
Dentro do VAGAS for business, você consegue utilizar o critério de raça na triagem, é claro, tudo isso após assinar um termo de responsabilidade que garanta que você utilizará esse critério para inclusão. Além disso, há a possibilidade de criar vagas exclusivas para PCD´s (pessoas com deficiência) e em breve traremos duas grandes novidades que também irão dar um passo importante para que profissionais de recrutamento e seleção utilizem a tecnologia como uma das principais apoiadoras no desafio de contratar perfis diversos.
Vá além do recrutamento
Pode ser um papo difícil sobre racismo, privilégio e desigualdades sociais. Mas esses conceitos definem o tempo inteiro como nos comportamos frente ao outro. Isso significa que o ambiente de trabalho também é lugar de exercitar a inclusão; quadro executivo, líderes e funcionários precisam estar alinhados com práticas efetivamente antirracistas.
“Para tornar o ambiente de trabalho inclusivo e diverso de fato, é preciso estar ciente de que as ações não podem ser pontuais, mas devem se tornar regra nas empresas a fim de reter e desenvolver os profissionais negros”, avalia Ferreira, da Empregueafro. Discutir o tema e propor educação racial, para pessoas de todas as etnias, fortalece práticas nessa direção.
Dica de curso sobre antirracismo
Para saber mais sobre práticas antirracistas, o Senac disponibilizou um curso on-line dentro do Programa de Inclusão e Diversidade, que serve como guia para temas como branquitude, racismo estrutural e lugar de fala.
Explorar materiais assim nos ajuda a entender a dimensão dos problemas raciais na sociedade e como podemos contribuir, fazendo nossa parte, para que ela se torne mais justa.