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Nos últimos meses, empresas viveram um período estranho e disruptivo ao mesmo tempo. Com escritórios fechados, equipes dispersas e estratégias alteradas, organizações tiveram de rebolar para reinventar seus negócios e a forma como atuam. Com a amenização da fase de distanciamento social, algumas companhias já ligaram o botão do retorno aos escritórios. Contudo, há claramente muitas incertezas no ar.
Em quase todas as companhias ao redor do mundo, líderes e funcionários se perguntam como trabalhar com segurança em seus locais de trabalho tradicionais. No entanto, há bons exemplos e lições de países que já passaram pela retomada após lockdown.
Neste artigo, vamos abordar lições, além de exemplos e dicas, para o RH ajudar a empresa a retomar os trabalhos com segurança. Confira!
Como lidar com incertezas no retorno aos escritórios?
Apesar de tantas incertezas, há uma evidência: o retorno aos escritórios e ao comércio deve ter como foco a segurança dos funcionários. A primeira medida em pauta, portanto, é tornar o ambiente de trabalho protegido, evitando ao máximo a circulação do vírus.
Não obstante, a organização deve ainda observar outros fatores que estão conectados à crise, tais como saúde mental do colaborador, possível reposicionamento de marca, fluxo de caixa e comportamentos no ambiente de trabalho. Essas são tarefa gigantescas para empresas de todos os tamanhos.
No caso do Brasil, há ainda um outro detalhe muito importante: a insegurança jurídica. Não houve alinhamento entre as políticas públicas federais, estaduais e municipais. Enquanto uma liberava a reabertura do comércio, a outra barrava. Portanto, o RH deve se atentar a detalhes técnicos de decretos, assegurando que a volta às atividades esteja dentro da legalidade.
Covid-19 em outros países
Para buscar exemplos de como os governos europeus lidaram com a retomada dos negócios após a primeira onda da Covid-19, entrevistamos dois colaboradores da VAGAS.COM que atuam no Velho Continente: a especialista em Recursos Humanos, Ligia Hacker, que mora na Alemanha, e Wesley Barreto, financial controller, que vive na Espanha.
Os profissionais relatam políticas organizacionais e públicas que tornaram o ambiente de trabalho e o retorno aos escritórios mais seguros. Eles também traçam comparações entre o cenário brasileiro e o contexto em que vivem, observando algumas particularidades que podem nos servir como lições para seguirmos em território nacional.
Lições de retorno aos escritórios
Os números de casos de contaminação e, principalmente, os dados de letalidade, na Alemanha, foram considerados baixos em comparação aos índices de outros países. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, foram registrados mais de 229 mil casos, sendo 9.249 óbitos.
A Espanha, por sua vez, enfrentou outra realidade. Entre março e abril, o país, ao lado da Itália, registrava os maiores índices de contaminação e, principalmente, mortes na Europa. De acordo com o mapa da Covid-19, criado pela Universidade Johns Hopkins, a Espanha registrou mais de 370 mil casos e 28.797 mortes.
Com a melhora, a Alemanha começou, aos poucos, a retomar a atividade em maio e a Espanha no final do mesmo mês. Vamos observar algumas etiquetas contra a pandemia adotadas em ambos os países.
Segurança de colaboradores em primeiro lugar
Ligia relata que na empresa na qual seu marido trabalha, em Berlim, foram estabelecidas regras para o retorno aos escritórios. A ocupação, por exemplo, foi limitada a apenas 30%. “Portanto, há um rodízio dos colaboradores e, mensalmente, é feita a reavaliação para possível alteração dessa ocupação”, explica.
A especialista em Recursos Humanos esclarece que a empresa disponibiliza ampla comunicação interna sobre processos de higienização, proteção e distanciamento social. Soma-se a essa política, os locais de limpeza chamados de “cantos de higienização”, a distribuição de máscaras gratuitas para todos e a orientação de quando devem ou não usá-las. “Os funcionários podem tirar as máscaras enquanto estão na sua baia, mas quando se levantam para circular pela empresa devem portá-las novamente”, afirma.
Ademais, acrescenta a profissional, a empresa aumentou os espaçamentos das baias e o local de refeição dos colaboradores está operando com distanciamento entre lugares. Todas as semanas, gestores têm de responder a um questionário informando se há gente andando sem proteção, se está faltando algo e como está o comportamento dos profissionais.
Já na Espanha, explica Wesley, o protocolo das empresas é padrão, seguindo orientações do governo federal. As recomendações são bem semelhantes às do Brasil. “Foi recomendado que os escritórios se planejassem para manter a distância mínima de dois metros entre funcionários, organizassem a entrada das pessoas nos escritórios para evitar aglomerações, efetuassem o controle de temperatura, motivassem o uso de álcool em gel nas mãos e portassem máscaras”, enfatiza.
Segundo o colaborador da VAGAS.COM, o governo também incentivou muito as empresas a adotarem uma política de home office e a realizarem reuniões virtuais.
No comércio, esclarece Wesley, a regra é semelhante ao modelo brasileiro. “A recomendação é colocar álcool em gel antes de entrar nos estabelecimentos e manter distância, muitas vezes, organizando a entrada das pessoas para evitar aglomeração”.
Unificação de regras governamentais
Se no Brasil assistimos a um cenário de discórdia entre as políticas adotadas contra o novo coronavírus nas esferas governamentais, na Alemanha, houve unificação dos discursos. “Ao longo de toda a pandemia, as instâncias de poder estavam muito alinhadas. Percebemos um padrão de comportamento nas decisões, embora os estados tenham a liberdade de atuar um pouco diferente, como no caso da volta às aulas”, aponta a executiva da VAGAS.COM.
“A Espanha, assim como o Brasil, reagiu tarde e, por isso, a situação ficou muito crítica”, destaca Wesley. Porém, explica o controller, quando o país respondeu à crise, houve unificação no poder de mando do governo federal.
“Enquanto no Brasil temos governos federal, estadual e municipal, a Espanha possui uma divisão de governo “Federal” (país), Comunidades Autônomas (“Estados”), Províncias e Municípios (cidades)”, comenta. O profissional esclarece que há a figura central do Ministro da Saúde na Espanha, mas as comunidades autônomas são responsáveis por coordenar o sistema de saúde e suas polícias.
“Assim, quando foi decretado o estado de calamidade pública (“Estado de Alarma”), o governo federal assumiu o controle de tudo – polícias, hospitais e até algumas fábricas. Inclusive, empresas que tinham estoques de materiais que poderiam ser utilizados no combate à Covid-19 tiveram de comunicar seus suprimentos ao governo”.
Mas, é claro, a situação política também sofreu rupturas nesse processo. Wesley comenta que houve algumas insatisfações, líderes das comunidades autônomas perderam poder em algumas frentes. “Mas, de maneira geral, acho que o governo conseguiu se unir para as ações e delinear caminhos bem claros para as pessoas. Não 100%, claro, mas acho que foi melhor conduzido do que no Brasil até agora”, frisa.
Deslocamento de casa para o trabalho
O governo central espanhol também traçou algumas recomendações aos colaboradores antes de se deslocarem ao trabalho. A primeira delas foi garantir a ida ao local de trabalho apenas se não apresentassem nenhum sintoma.
O governo também recomendou o home office a pessoas pertencentes ao grupo de risco ou que tiveram contato com alguém diagnosticado com o vírus.
Além do mais, no trajeto para o trabalho, foi recomendando dar preferência, sempre que possível, às opções de transporte com um distanciamento mínimo de dois metros entre pessoas, além da obrigatoriedade do uso de máscaras. “Em geral, o pessoal respeita, apesar de também existirem aqueles que colocam a máscara no queixo”, brinca o executivo da VAGAS.COM.
E uma curiosidade: durante o confinamento geral (lockdown), mesmo dentro dos carros, os espanhóis precisavam seguir um certo distanciamento, com um na frente dirigindo e o outro no banco de trás. “Sair com duas pessoas no carro também era exceção”, explica Wesley.
Preparação para novas ondas
Na Alemanha, esclarece Ligia, por enquanto, ao menos na empresa em que o marido atua, não foi comunicado um possível alerta sobre uma segunda onda de disseminação do vírus. No entanto, explica a executiva, todos estão antenados com o retorno das férias de verão, que aconteceu em meados de agosto.
“A escola dos meus filhos já avisou que, a qualquer momento, poderá ter um lockdown e estará pronta para operar [nessas condições], se for esse o caso. A instituição já enviou regras sobre como deverá funcionar o ensino a distância, caso seja novamente necessário”, sublinhou.
Na Espanha, a nova onda de contaminação já está acontecendo, de acordo com o relato do colaborador da VAGAS.COM. “Já há um segundo aumento de casos em diversas regiões, mas as coisas estão funcionando, no geral. Muitas vezes, eu até estranho um comportamento de normalidade na rua. Nem parece que todo mundo ficou preso em casa há pouco tempo”, analisa.
Cuidados com impactos na economia
“Trata-se de um lockdown regional, talvez porque o governo esteja muito preocupado em não perder a temporada de verão, muito importante economicamente para a Espanha”, esclarece o executivo.
Com o aumento dos casos, alguns países, como o Reino Unido, colocaram restrições de quarentena para viajantes que estiveram na Espanha, o que foi um grande passo dada a relevância do turismo, principalmente entre os ingleses.
O profissional também destaca que o sistema de assistência do governo, com distribuição de renda básica, é amplamente utilizado por pessoas e empresas para reduzir o impacto financeiro da crise. Contudo, esse aporte financeiro levou ao aumento da dívida pública. “Na Espanha, a União Europeia vai injetar bastante dinheiro para retomar a economia, com as bases de reconstrução econômica em economia verde e digitalização”, sublinha Wesley.
Aliás, a crise da Covid-19 fortaleceu não só na União Europeia, mas em todo o mundo, as bases de uma economia mais sustentável e digitalizada. Especialistas do Futuro do Trabalho garantem que a flexibilidade do home office, a virtualização de reuniões e a consequente diminuição de CO2, com menos carros na rua, são tendências que permanecerão pós-pandemia. E alguém duvida?
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