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Quando o assunto é diversidade e inclusão, a VAGAS vem se aprofundando e ampliando a reflexão para os seus colaboradores e mercado em geral.
No dia 13 de maio de 1888 foi declarada a abolição da escravatura, e para contar um pouco mais sobre o contexto histórico desta importante data e todos os impactos que o passado ainda causa na população negra do Brasil, o Joacir e a Bruna, que são do Comitê de Diversidade da VAGAS.com, compartilharam um pouco de suas histórias e visões em uma palestra apresentada para o público interno no espaço chamado “Trocando Ideias”, destinado exatamente para essa troca de experiências e vivências.
O processo de abolição – Viajando pela história
Esse foi um caminho longo e cheio de interesse entre países. Como pode ser visto na linha do tempo, a Inglaterra, após ter a abolição escrita por questão da pressão da sociedade, passou a pressionar outras nações para aderirem a abolição, tudo por questões comerciais.
Portugal e Espanha não estavam muito interessadas em seguir por esse rumo, mas a Inglaterra aproveitou que Portugal tinha uma dívida, e como forma de perdoá-la, solicitou a aderência à abolição.
Ao entrar em comum acordo, eles decidiram que essa mudança seria feita aos poucos, então algumas movimentações ocorreram ao longo dos anos, até chegarem na abolição de fato.
Confira as datas e acontecimentos abaixo:
Nessa linha do tempo você já pode perceber algumas inconsistências e provas de que nem tudo era o que parecia. Por exemplo em 1871, na Lei do Ventre Livre – nessa época, todo filho de escravo passaria a ser “livre”. Mas tinha que ficar sob os cuidados da Casa Grande para ser cuidado por sua mãe até os oito anos de idade.
Depois disso, ou a criança era entregue para o orfanato e o dono da terra recebia uma indenização, ou tinha que ficar até os 18 anos prestando serviços para a casa. Ou seja, essa pessoa era tudo, menos livre.
Ou o exemplo de 1885, com a Lei dos Sexagenários, que tornava livre escravos com mais de 65 anos de idade. Essa liberdade era dada a seres humanos que já estavam esgotados de tanto trabalho pesado e que se viam totalmente sem oportunidades e sem perspectiva de um futuro. E em um contexto em que a expectativa de vida era de 30 anos na época, ou seja, muitos nem chegariam lá.
E em 1888 foi assinada a Lei Áurea, pela princesa Isabel, e com apenas 2 artigos, os escravos estavam livres… até a página 2.
Consequências pós-abolição. E que consequências!
A abolição veio com uma série de interesses maiores colocados em questão, para entender mais a fundo, veja o preço que esses escravos pagaram pela sua liberdade:
- Ficaram sem apoio
- Desempregados
- Discriminados pela cor nas ruas
- Aumento de mendigos
- Aumento da violência
- Falta de garantias para sobrevivência
Alguns dos ex escravos viram como a melhor alternativa para fugir da miséria, viverem como no passado, só que agora “fora da lei”.
Reflexos no mercado de trabalho
A população negra paga o preço até hoje por todo o histórico de discriminação e desigualdade social que veio do passado.
Seguem algumas informações que retratam essa realidade:
- Nem todos os pobres são negros, mas a maioria dos negros são pobres
- A empregabilidade para o negro é muito menor do que para um branco, variando em 37% a mais para brancos
- Negros e negras somam apenas 4,7% no quadro executivo das empresas de maior destaque no cenário nacional
- Os salários dos negros são, na maioria das vezes, inferiores aos dos brancos (para um mesmo cargo)
- Quanto mais operacional e um cargo, maior e a presença de negros
- Há o que é chamado de “racismo velado” no Brasil – o negro ganha R$ 1.200 a menos do que um branco em um mesmo cargo, de acordo com dados do IBGE
O ponto de vista da Bruna e do Joacir
Em alguns casos, só saberemos do real impacto do preconceito e de tudo o que aconteceu com a população negra aqui no Brasil, perguntando para pessoas que vivenciaram e ainda vivenciam situações que reforçam isso em seu dia-a-dia.Por isso, a equipe do VAGAS for business entrevistou os colaboradores da VAGAS Bruna e Joacir, que apresentaram sobre esse tema tão relevante, buscando entender mais a fundo suas opiniões.
- Vocês já passaram por alguma situação de discriminação que acreditam que aconteceram como consequência do passado?
Joacir diz: “Desde as coisas menores de quando eu era criança, apelidos como “negrinho”. Ideias que a minha família colocava na minha cabeça “mas não, você não é tão negro assim”. Teve um momento que fui comprar um carro, ninguém foi me atender. Mas hoje, mais velho, não sei se eu evolui e ignoro as coisas, ou se as pessoas estão mudando e tratando essas questões com mais respeito”.
Bruna “ Uma vez andei por uma loja de departamentos e um segurança ficou me seguindo. Naquela época, achei normal. Agora que estou estudando e me aprofundando mais sobre o assunto, vejo que não era bem assim”.
- O que vocês esperam para o futuro em relação à diversidade no mercado de trabalho? Uma visão da diversidade em geral, não apenas relacionada a raça:
Joacir “Na minha opinião, existem dois movimentos em relação às empresas em relação a diversidade dentro do mercado de trabalho. Uma é focada de fato na preocupação de trazer profissionais diversos e perceber que de fato isso impacta nos resultados da empresa e nos produtos dela em geral. E a outra, é aquela que se preocupa apenas em trazer uma boa imagem e seguir a “moda”, além de ter sua imagem melhor associada aos produtos.”
Bruna: “Mesmo empresas que estão fazendo isso por “moda”, vão acabar inserindo essas pessoas dentro do mercado de trabalho, mesmo que pelos motivos errados, vão acabar agindo certo. Acho que tanto as empresas quanto o governo devem olhar para essa questão com muita atenção e cautela”.
- Na visão de vocês, há esperança para que os negros ganhem mais oportunidades e igualdade no mercado de trabalho? Estamos seguindo para esse caminho?
Joacir “Essa briga não é só nossa e não só para o grupo de negros. A igualdade tem que existir para todos, como sociedade e no mercado de trabalho. Eu já fui mais otimista no passado, mas não vou desanimar.”
Bruna “ Estamos engatinhando ainda. Mas somos otimistas e temos muita esperança, só que todas as pessoas têm que defender a causa e mudar.”
- Vocês acreditam que as leis de cotas raciais são a solução para a desigualdade?
Bruna “ É um ato de reparação. É uma obrigação do estado fazer com que esse ponto de partida seja igual para todos. Espero que um dia as cotas não sejam necessárias, mas vejo que isso talvez aconteça daqui muitos anos”.
Joacir “ Acredito que isso não vá fazer com que cubra o que aconteceu com os nossos antepassados. Mas é uma forma de reparar os danos. Para mim, não existe outra forma de trazer a justiça social além das cotas. E isso não vale só para os negros, falo aqui da diversidade social. Enquanto não há a igualdade social, temos que contar com essas leis para que as coisas sejam justas e oportunidades sejam dadas para todos – É claro que a lei não é perfeita, para mim, eles deveriam colocar primeiro a renda como fonte principal. E depois, a escola pública. A lei não está redonda, precisa de ajustes, mas é um começo e traz impacto sim.
- O que vocês esperam que as pessoas que assistiram o Trocando Ideias tenham levado como aprendizado com a apresentação de vocês?
Bruna “Esperamos que as pessoas coloquem a mão na consciência. Os grupos mais favorecidos devem se colocar no lugar do outro, pensar nos privilégios que possuem e também começar a olhar essa questão com mais empatia. Só assim conseguiremos romper a barreira do racismo, preconceito e dar oportunidades iguais no mercado de trabalho.
Joacir “Gostaria que as pessoas tivessem suas opiniões em relação ao sistema de cotas, mas que estudassem e entendessem mais a fundo de fato o que é antes de construí-la. Para mim, essa discussão fazendo parte da VAGAS já é um ganho. Se puder ser disseminada para fora,melhor ainda. Não quero que haja uma questão de dó. E sim, de entender o contexto. Eu não quero “tapinhas no ombro”. Eu quero que as pessoas entendam a causa e comecem a agir diferente.”
E os dois, ao finalizarem a entrevista ao blog do VAGAS for business, deixaram a seguinte mensagem: “O caminho é longo e difícil, especialmente para quem ainda é discriminado, mas deve ser perseguido”.
Conclusão
Como fechamento da palestra, a Bruna e o Joacir apresentaram uma charge que mostra exatamente o caminho que esperam que aconteça com o País, que os negros e outras pessoas desfavorecidas cheguem na fase de libertação.
Sem reforçar nenhuma opinião, já que esse não é o objetivo do artigo,fica a reflexão: a sua empresa e o departamento de Recrutamento e Seleção e olhando de forma justa e correta para esses e outros assuntos sobre a diversidade e inclusão no mercado de trabalho?