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Algumas empresas já possuem um olhar mais atualizado e estratégico com relação a temas sociais, tais como diversidade, parentalidade e maternidade. No entanto, os números ainda indicam que o mercado corporativo precisa mudar para atrair, reter e aproveitar o talento das mães no mercado de trabalho. Como assim?
Para muitas mulheres, a carreira e a maternidade são caminhos que não se cruzam. Algumas acreditam que a gravidez pode atrapalhar seus planos de evolução profissional e outras já sentiram na pele essa “exclusão social do mercado de trabalho”.
O medo dessas mulheres é baseado em números. A pesquisa “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que quase metade das mulheres entrevistadas (48%) perderam seus empregos após a licença-maternidade.
Nesse cenário, temos de um lado as mães, fora do mercado de trabalho e, do outro, as empresas que não perceberam ainda como aproveitar esse potencial produtivo.
A boa notícia é que há caminhos para vencer esse desafio e unir essas duas pontas, mães e empresas, melhorando a empregabilidade dessas mulheres e otimizando alguns indicadores de pessoas das organizações. Como?
Acompanhe o artigo que trará dicas da especialista em recolocação de mulheres no mercado de trabalho, Renata Lino, da HRTech Mommy Tech, bem como os atuais preconceitos que essas profissionais têm de vencer e caminhos para melhorar essa relação de maternidade e empregabilidade.
Por que as empresas não contratam mães?
Preconceito é o principal motivo pelo qual as empresas não contratam mães. Certo dia, uma funcionária foi informar ao chefe que estava grávida novamente e, assim que encerrou a sua fala, escutou a seguinte frase: “Acabou de voltar da licença maternidade e já está grávida de novo? Desse jeito só vou começar a contratar homens, já que as mulheres só me dão prejuízo”.
Pode parecer absurdo, mas trata-se de uma situação real e que acontece com muitas mulheres. Para além de palavras, o preconceito com mães no mercado de trabalho é sentido no dia a dia da atuação delas.
Elas relatam redução de seus papéis na organização, exclusão de projetos importantes da empresa e preconceito de chefes e colegas de trabalho. Sim, isso acontece em muitos casos. Quer ver só?
O Vagas.com realizou uma pesquisa com 863 profissionais mulheres, usuárias da plataforma, e também com suas colaboradoras para entender o cenário da “Maternidade e Mercado de Trabalho”.
Algumas conclusões foram tiradas com base nas respostas recebidas, confira:
- 52% das mães que engravidaram ou saíram em licença maternidade em seu último trabalho passaram por alguma situação desagradável na empresa – número bem próximo do levantamento da FGV mencionado no início da reportagem;
- Substituição, redução da carga horária e salário, exclusão de projetos e até aborto por conta do trabalho foram os impactos diretos sofridos por algumas das respondentes logo após a volta da licença maternidade;
- Em 80% dos casos, o chefe foi o responsável pelas situações;
- Entre as entrevistadas, 45,9% também relataram que sofreram preconceito por parte dos colegas de trabalho;
- 37,5% afirmaram que já sofreram preconceito ou julgamento pelo fato de terem filhos.
E sim: mães que procuram emprego enfrentam desvantagens, incluindo:
- menor probabilidade de serem contratadas;
- salários mais baixos;
- percepção de que são menos comprometidas com o trabalho do que pais ou mulheres sem filhos.
Um estudo sociológico da universidade de Cornell, nos EUA, testou algumas dessas hipóteses. Durante o levantamento, foram criados dois perfis de pessoas candidatas, ambos com trajetórias de sucesso e qualificações requeridas pela vaga. Na primeira seleção, os dois perfis foram qualificados.
Em seguida, em um segundo momento, mencionou-se que uma das pessoas candidatas era mãe de dois filhos e que participava de uma associação de pais e mestres. Adivinhem qual perfil seguiu adiante no funil de R&S? Sim, a pessoa candidata que não era mãe.
A mesma pesquisa da universidade de Cornell também comprovou que as mães recebem salários mais baixos. “Esta pesquisa mostra que você ganha menos se tiver um filho, menos ainda se tiver dois e assim por diante.”, disse Shelley J. Correll, professor associado de sociologia em Cornell que conduziu o estudo
Estamos aqui falando de mães no geral, mas no caso de mães solteiras no mercado de trabalho ou mães atípicas, com filhos neurodiversos, esses preconceitos podem ser ainda maiores.
E há alguma proteção legal para essas mulheres após o fim do período de licença-maternidade?
O que diz a lei sobre a relação mães e mercado de trabalho?
A CLT apresenta medidas para salvaguardar o direito da mãe e do bebê antes do nascimento (durante a gestação) e até seis meses depois da gestação, tais como:
- não permitir que funcionárias grávidas sejam demitidas;
- cria a licença-maternidade;
- permissão especial de sair para amamentar as crianças;
- direito à licença especial para consulta de pré-natal;
- não é permitido, na hora da contratação, solicitar teste de gravidez;
No entanto, não há garantias legais para que as empresas preservem a empregabilidade das mães após a licença-maternidade. É aí que residem os principais problemas, como relatado pela especialista Renata Lino.
“Depois da licença-maternidade fui demitida”. Esta é a frase mais comum que a CEO da HRTech escuta de mães que procuram ajuda da startup. E não foi diferente com a própria fundadora da MommyTech. Nas duas gestações de Renata Lino, dos filhos Arthur e Benjamin, ela sofreu o preconceito do mercado de trabalho.
“Na primeira gestação, estava para ser promovida a gerente, mas com a gravidez a promoção não aconteceu e, na volta da licença-maternidade, fui desligada da organização. Na segunda gravidez, me afastaram de um cargo de gestão e me colocaram como operacional após a volta da licença-maternidade”.
Nas palavras da fundadora da MommyTech, essas experiências fizeram com que ela entendesse o tamanho da dor de uma mãe que quer coordenar a profissão e a maternidade por isso ela e o marido fundaram a HR MommyTech,
Porque é um erro não contratar mães?
Além do preconceito em si, é um erro de negócio não contratar mães. Por quê? Quando uma mulher se torna mãe, ela adquire novas habilidades que são fundamentais em qualquer atividade, tais como como multitarefa, atenção aos detalhes, antecipação e planejamento.
Além do mais, à medida que as crianças crescem, as mães aprendem novas capacidades, tais como:
- mediação;
- gerenciamento de conflitos;
- tomada de decisão;
- resiliência;
- adaptabilidade.
“Alguns RHs de organizações descobriram o que a ciência já comprovou: mulheres que são mães desenvolvem habilidades sociais importantes no ambiente de trabalho como adaptabilidade, resiliência e lealdade”, destaca Renata.
A especialista também acrescenta que contratar mulheres mães também ajuda a reduzir o turnover das empresas. Como? Ela lembra que demissões de mães geram insegurança nos demais colegas de trabalho que podem querer procurar empresas com uma cultura menos tóxica e acolhedora.
Como a sua empresa pode ajudar mães a regressar ao mercado de trabalho após a licença-maternidade?
Agora que você já conhece os principais direitos, medos, desafios e preconceitos das mães no mercado de trabalho, que tal saber como acolhê-las após a licença-maternidade?
A especialista em recolocação de mães no mercado de trabalho, Renata Lino, deixou aqui 5 dicas vencedoras. Veja!
Forneça espaço adequado para amamentação
A amamentação durante os primeiros seis meses a um ano traz uma série de benefícios para a saúde da mãe e do bebê. Mas a pressão para realizar sem um trabalho “sem distrações” muitas vezes impede as mães de continuarem amamentando.
“E veja que empresas que criam uma cultura de apoio à amamentação contínua ajudam tanto as novas mães a se ambientar novamente à rotina de trabalho como a melhorar os indicadores de pessoas, turnover é um deles, por exempo”, ressalta a especialista.
A escolha de uma empresa de fornecer apoio à amamentação se traduz em maior satisfação no trabalho e produtividade.
Tenha um plano de reintegrar as mães
Muitas empresas têm ótimos programas onboarding para novos funcionários, mas poucas são as empresas que dão o mesmo nível de atenção às mães que retornam da licença parental.
Aqui estão algumas abordagens, segundo Renata Lino de recolocação de mães, que você pode considerar para reintegrar as mulheres que se tornaram mães no local de trabalho:
- Antes da licença, estabeleça um plano de reintegração gradual em seu papel e comece a ter conversas de check-in com a mãe quando a licença terminar.
- Realize uma orientação aos funcionários voltada para as mães que retornam.
- Forneça uma visão geral das atualizações da empresa e da organização que ocorreram durante sua ausência;
Crie oportunidades de trabalho flexíveis
“Como sociedade precisamos reconhecer que não há problema para uma mãe se afastar do seu trabalho para cuidar do filho doente”, destaca Renata.
Oferecer ambientes de trabalho flexíveis permite que a mãe possa escolher o que é melhor para ela e sua família. A iniciativa também faz com que a profissional não se sinta tão sobrecarregada nem desamparada caso tenha de faltar em algumas reuniões.
Pratique pagamento e equidade promocional
Não é porque a mãe pode ter uma jornada de trabalho flexível ou terá de se ausentar de algumas reuniões para levar o filho ao médico, que ela não será cobrada. As metas das mães devem ser iguais às de qualquer profissional na empresa, assim como o salário e os bônus devem ser proporcionais às entregas conduzidas por elas.
“As mães trabalhadoras são eficientes em fazer o trabalho bem-feito, mesmo com os diversos papéis que tem de exercer: mãe, esposa, dona de casa e profissional”, destaca a CEO da MommyTech.
Encoraje a comunidade da parentalidade
Depois de retornar ao trabalho após a licença maternidade, às mães e pais que trabalham muitas vezes se veem obrigadas a provar seu valor e competência dentro do ambiente de trabalho. É como se o ciclo dessas pessoas na empresa começasse do zero.
Para criar um ambiente melhor e mais seguro para mães e pais que retornam ao mercado de trabalho após a licença-maternidade e paternidade (algumas empresas já oferecem mais do que apenas os 5 dias de lei), algumas empresas criaram rodas de conversas incentivando um networking entre pais e mães.
Trata-se de uma comunidade onde pais e mães se conectam, compartilham recursos e encontram juntos as melhores formas de trabalhar e cuidar dos pequenos.
Como vimos ao longo do artigo, ainda há algumas barreiras que precisamos enfrentar, especialmente na volta à licença-maternidade, mas se a empresa acolher mães e pais após essa nova fase da vida, ela certamente colherá bons resultados num futuro próximo.
Gostou do conteúdo? Confira qual o cenário das mulheres do ambiente corporativo e como você pode incentivar a diversidade, igualdade e inclusão no mercado de trabalho.