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O Brasil ganha outro patamar em sua representatividade na Gestão de Pessoas: pela primeira vez uma mulher, e latino-americana, assume a presidência da WFPMA – World Federation of People Management Associations (Associação Mundial das Associações de Gestão de Pessoas). A posse oficial acontecerá em junho, durante o Congresso Mundial que será realizado em Chicago (EUA). Leyla Nascimento, que já foi presidente da ABRH-Nacional por dois mandatos (2010-2015), estará à frente de uma organização que congrega associações nacionais de RH de 93 países, representando 600 mil profissionais. Recentemente, a executiva estava à frente da FIDAGH – Federación Interamericana de Asociaciones de Gestión Humana (de 2015 a 2017).
Leyla tem uma empresa de consultoria, o Instituto Capacitare, é casada, tem dois filhos e duas netas. Formada em Pedagogia, pós-graduada em Psicologia e Mestre em Educação Executiva, há 30 anos é voluntária nas entidades ligadas a RH.
Entrevistamos Leyla Nascimento para saber de seus novos desafios como a primeira mulher e primeira latino americana à frente da WFPMA e conhecer sua percepção sobre o momento de transformação do RH.
Nos últimos 30 anos, em toda sua carreira ligada ao RH, a senhora sempre participou de entidades, presidiu a ABRH-RJ, depois a ABRH-Nacional, a Federação Latino Americana e a agora uma entidade global. Qual a importância de ser voluntária em entidades associativas?
Com o impacto de tantas mudanças ocorrendo no mundo, não dá para ficar sozinho. Quando você participa de uma entidade tem acesso a muito mais informação, não só da sua realidade, mas de outros estados, países, diferentes empresas. À frente da Federação Latino Americana, por exemplo, acompanhei a crise política na Nicarágua. A vice-presidente da Federação Latino Americana, por exemplo, é uma venezuelana. Ela acompanha o Twitter diariamente, porque esse é canal onde o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulga seus decretos, mudanças na legislação. Entre seus desafios como profissional de RH, está a missão de garantir a cota de alimentação para os funcionários, já que o país passa por uma grave crise de abastecimento. Ou seja, você tem contato com problemas diversos, é uma possibilidade de crescimento profissional. Saber o que está acontecendo no mercado, aprender com erros para não repeti-los na sua empresa, na sua associação. Estar no mundo associativo é acompanhar esse mundo ao vivo e a cores, é uma oportunidade de não ficar fora desse contexto.
A senhora acha que falta uma cultura associativa mais forte no Brasil?
Acho que tem mudado para melhor. As pessoas têm percebido que estamos condenados a ser eternamente estudantes com tantas mudanças. E as associações cumprem esse papel. É um espaço importante para o profissional se informar, por meio de fóruns, grupos de estudo, de debate, sejam formais ou informais.
Muita expectativa para liderar uma organização mundial de RH?
Sim! São 93 países diferentes, representados por cinco grandes federações: Norte-americana, Africana, Interamericana, Asiática e Europeia! Será um grande desafio, é a primeira vez que a WFPMA terá uma mulher na sua presidência e latino-americana. Em 1992 tivemos um presidente brasileiro, o Sergio Luiz Hillesheim.
Como é a rotina de uma entidade com esse porte, com representantes intercontinentais?
A tecnologia ajuda muito. São duas reuniões presenciais por ano, sempre em diferentes continentes. A cada dois anos acontece o congresso mundial, o último deles em Istambul, na Turquia e o próximo, em julho, em Chicago. Mas fora isso, fazemos muitas reuniões in conference com frequência.
Recentemente o Brasil aprovou uma reforma trabalhista, o que a senhora achou das mudanças na legislação?
Agora existirá uma flexibilidade maior na negociação entre empresa e trabalho. Mais flexibilidade para jornada de trabalho. As férias por exemplo, é interessante que o funcionário não tenha que tirar 30 dias compulsoriamente, que possa negociar esses prazos. Acho que as oportunidades de emprego vão aumentar e isso só não ocorre ainda porque estamos vivendo um quadro de recessão econômica muito forte. Para aumentar as contratações, falta uma visão melhor do cenário político para dar mais estabilidade às empresas. Também acho que existe um descompasso entre as demandas e os profissionais ofertados.
No Uruguai, por exemplo, um dos temas discutidos no último congresso era: “como eu preparo pessoas para o desenvolvimento”. Em um determinado momento da apresentação, o palestrante disse, “isso envolve vocês (outros heads de RH da América Latina), porque não teremos profissionais suficientes para atender nosso crescimento”. Então eles sabem quais serão os profissionais necessários para os próximos anos e estão trabalhando para suprir essa necessidade.
A senhora acha que essa falta de planejamento de formação de profissionais é um dos graves problemas do Brasil?
Sim, só para dar um exemplo: no Nordeste existe uma grande oferta de profissionais de TI, mas não tem mercado que os absorva. Já no Sudeste falta, mas temos muitos profissionais formados em Engenharia Florestal, uma grande necessidade no Norte e Nordeste. É preciso conciliar a demanda de formação e necessidade do mercado regional. O ensino técnico é outra questão que foi deixada de lado. É muito pouco estimulada. Quantos técnicos em mineração a Vale contrata? Faltam profissionais.
Quem deveria fazer esse planejamento?
Acredito que o MEC e o Ministério do Trabalho deveriam se debruçar sobre esta questão, junto com setores do empresariado. O agronegócio, por exemplo, é o segmento mais lucrativo no Brasil atualmente e não vemos a criação de cursos técnicos para essa região, para esse setor da economia. Precisamos saber quais são nossas demandas e planejar em cima disso.
Além dessa questão, como a senhora vê o processo de rápida automação, de transformação digital que estamos vivendo e deve se intensificar nos próximos anos?
Esse sem dúvida é um caminho sem volta, o desenvolvimento da tecnologia. Por isso vemos o crescimento de tantas startups, substituindo grandes empresas, criando modelos de negócios. Os RHs vão ter que se acostumar, a ter equipes mistas, com robôs! Tomadas de decisões mais precisas a partir de big datas. O RH vai lidar com essa realidade. Gosto muito de uma charge onde o filho pergunta: “mãe, eu nasci de um download?” (risos).
Diante de todo esse cenário, qual é o momento do RH?
Por mais paradoxal que pareça, estamos assistindo a volta ao simples: ouvir. É o momento de ouvir, ouvir muito mais. O RH estratégico é um agente de mudança. Para ajudar as lideranças, tem que saber ouvir.