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As fábricas do futuro terão apenas dois empregados: uma pessoa e um cachorro. O trabalho da pessoa será o de alimentar o cachorro. E o trabalho do cachorro será garantir que a pessoa não toque em nada.
Foi assim que Bryce Goodman, speaker da Singularity University, encerrou sua apresentação no Deloitte Industry Transformation Cycle (ITC) 2019, realizado em São Paulo. A fala foi recheada de dados sobre uso de internet, sensores e redes. Nos próximos anos devemos ter 50 bilhões de dispositivos conectados à internet. Hoje, mais pessoas têm acesso à internet do que à água potável. E já existem mais celulares ativos no mundo do que pessoas.
Para Goodman, no entanto, atualmente a inteligência artificial é o que o sexo é para os adolescentes. “Todo mundo fala sobre isso, ninguém sabe realmente como fazer, mas pensa que todos os outros estão fazendo”, compara.
Para embasar sua percepção, ele apresentou resultados do estudo realizado pelo BCG e MIT Sloan que perguntou a 3 mil executivos o que eles pensavam de inteligência artificial. A grande maioria, 85%, acredita que IA trará uma vantagem sustentável para o negócio. Metade diz que tem uma estratégia para usar IA. E, que surpresa, apenas 5% dos entrevistados usam inteligência artificial de fato.
É o fim do trabalho humano?
Goodman disse ainda que hoje construímos máquinas que são capazes de aprender, como os humanos aprendem, com exemplos. “Quanto mais dados ela tiver, mais vai aprender”, afirma. “Com dados, ela entende o que é uma fraude e uma transação segura, por exemplo, como se houvesse uma etiqueta. ”
E é dessa capacidade de aprender, somada à ampliação do uso de sensores no mundo todo, que Goodman tirou aquela conclusão que fechou sua fala – e acelerou os batimentos cardíacos de boa parte da plateia. De forma simplificada, o que Goodman parece dizer é que as máquinas, em breve, serão tão autônomas, eficientes e inteligentes, além de tão capazes de aprender quanto o ser humano, que poderão dispensar o trabalho humano e realizar todas as tarefas sozinhas.
O Google Maps, por exemplo, poderá se conectar a um carro autônomo que levará o usuário aonde ele quiser sem qualquer interação humana. A Alexa poderá detectar o que está falando na sua casa e fazer o pedido diretamente à sua rede de supermercados favorita. Você nem precisa saber de nada. E a encomenda poderá ser separada por robôs e entregue por um drone. O trabalho humano será totalmente dispensável. Será mesmo?
Muitos empregos vão desaparecer, outros vão surgir
Em outra apresentação, Ira Kalish, economista-chefe global da Deloitte, mostrou um ponto de vista bem menos catastrófico – e bastante mais otimista para quem trabalha com recursos humanos.
Para ele, é fato que a inteligência artificial deve gerar transformação em vários segmentos incluindo serviços profissionais, financeiros, telecomunicações, energia, educação, healthcare. “Ela vai acabar com muitos empregos nessas indústrias”, afirma. “Mas outros empregos serão criados”, garante.
Kalish afirmou que muitas pessoas se preocupam com a evolução de inteligência artificial porque acreditam, como acredita Goodman, que ela vai gerar um grande desemprego. “Isso não é verdade”, diz ele, de forma categórica. E por que ele pensa assim? “Nós já tivemos outros momentos disruptivos como o que temos hoje”, lembra.
Há 100 anos, por exemplo, não havia carros. O surgimento do automóvel foi muito inovador. Antes dele, as pessoas utilizavam cavalos para se locomover. Com a novidade, claro, muita gente perdeu o emprego. Quem tinha a função de limpar a sujeira que os cavalos deixavam pela rua, por exemplo, não teve mais essa ocupação. “E houve uma grande onda de desemprego? ”, questiona. Não houve, ele diz. Outros empregos surgiram naquela época. “Portanto, outras indústrias vão emergir”, afirma.
Como prova, ele cita Uber e Airbnb, que não existiam antes do mobile. E eles trouxeram uma grande onda de desemprego? Não. Empregos diferentes surgiram, novas oportunidades foram criadas.
Preparar força de trabalho é o grande desafio
Para o especialista, o mesmo deve acontecer com a inteligência artificial. “ O grande desafio da disrupção tecnológica não é o desaparecimento dos empregos, porque outros empregos serão criados”, afirma. “O grande desafio é garantir que seja criada uma força de trabalho que tenha as competências necessárias para ocupar esses novos empregos que surgirão”, afirma ele. E essas competências não serão simplesmente técnicas. Elas devem envolver comunicação, empatia e interação humana. É o que ele diz. E é um desafio e tanto para o RH.
Sem dúvida, os dois pontos de Goodman e Kalish são bem diferentes, mas bastante compreensíveis. Em qual deles você aposta suas fichas?